quinta-feira, 12 de julho de 2012

Bailarina dançante.





Dizem que meninos não choram. Mas eu chorei. Quer dizer, ainda choro. Não! Não a culpo por nada, acho que acabei com o sofrimento dela. E eternizei o meu. Tentam me entender, não sou o culpado desta história, apenas fiz o que... Bom, apenas fiz.
Era outono, as folhas se desprendiam feito bailarinas dançantes. O dia estava medonho, acho que a meteriologia já tinha previsto o que iria acontecer.

O barulho suave da chaleira me despertou, um cheiro forte de café fresco rondava a casa, uma luz forte vinha de minha janela, então me dei conta que já tinha amanhecido. As 5:58 da manhã, músicas antigas tocavam na estação de um rádio, eram canções melancólicas de um velho cantor já falecido, esse rádio por então localizava-se na copa. Lá, um frescor de menta entrava por minhas narinas, e tinha certeza que meu idoso padrasto já se mantinha de pé. 
Waffle, bacon e ovos me esperavam na mesa. Tentei engolir o máximo que pude, não poderia me atrasar novamente para o colegial, desta vez eu ganharia um bela de uma advertência. Abri a porta, e até então não tinha percebido mas uma garoa fina estava caindo, então voltei-me para apanhar minha capa de chuva e as chaves do carro. O filho do Sr. Walker passava entregando os jornais e Srt. Pool me acenava com um contagiante sorriso.
Oh não! As noticias do vilarejo não eram nada boas, três mortes e um desaparecimento no bosque, acho que são ''meigos'' ursinhos procurando algum alimento. A estrada estava escorregadia, orvalhos ainda permaneciam lá, concentrei-me em dirigir devagar e singelamente, apenas com um proposito: chegar vivo até a escola; Quando pensei nisso, bufei, meu senso de humor estava forte. 
Ao chegar no colegial, deparei-me com ela, Hannah Mccain a futuramente responsável por arrancar meu coração ainda vivo, e deixa-lo estupidamente sagrar, além de me torturar de
amor. Havia algumas semanas, seu parceiro havia sido uma das vitimas do desaparecimento - aquele mencionado no jornal (o de hoje, pela manhã), e então ela tornou-se meu par nas aulas de cálculos, era algo provisório por enquanto. Mas foi suficiente para acontecer o que aconteceu.

Começou com pequenas dúvidas nas vésperas de avaliações, ela chegava exatamente ás 16:27, todos as vezes e isso me surpreendia, ela era pontual. Meu padrasto tinha alguma intuição sobre ela, era só entrar que arrepios e olhares eram lançados, apesar de perceber ela parecia não ligar muito. 
Além de cálculos uma certa química começou a surgir. Começamos a namorar, e prometi pertencer a ela para sempre, e ela o mesmo. Está ai o meu primeiro erro, prometer ser de alguém para sempre.. 
Namoramos 7 meses e 23 dias, em uma conversa formal decidi que não queria levar nosso relacionamento a diante, e no instante em que a levei até a porta, ela me disse algo no ouvido, como:
'' Eu serei sua para sempre, e você meu. Verá! Eu não brinco com certas palavras''
E se foi. Está ai o meu segundo erro, quebrar a minha promessa.
Cada um foi para caminhos diferentes, ela para a universidade de Princeton na Nova Jersey, e eu... Bom eu continuei cursando alguns cursinhos, tinha ainda meu idoso padrasto no qual me sentia na obrigação de proteger e cuidar.
Três anos depois, uma semana antes de Hannah se formar, recebi um pequeno envelope, no qual dizia:

'' Eu tive momentos tristes, sim, todos têm, mas minha vida foi marcada por muitas alegrias e emoções fortes que me fizeram rir e chorar, e é isso o que realmente importa, o que levamos conosco depois que as nossas carnes apodrecem. Não, eu não decidi partir porque era triste.
Eu tirei minha vida porque parei de viver muito tempo atrás, quando meu coração silenciou-se, se negando a sentir qualquer outras coisa que não fosse seu amor. Eu não vivia há muito tempo, andava por aí como um corpo sem alma, não sentia dor, nem frio, não sentia mais amor, nem o ódio que me consumia por inteira.
A tristeza não é nada comparada ao que eu sentia, eu já não pertencia a esse mundo, acho que nunca pertenci.
Desculpem-me, sei que fui egoísta ao tomar essa decisão, mas eu gostaria tanto de voltar a sentir, mesmo que seja dor. Sei que é difícil de acreditar, mas eu sei que voltarei a sentir algo, na minha próxima vida.
Eu senti a lâmina fria cortar minha pele, e senti o sangue quente escorrer por meus pulsos. Eu sinto, e estou feliz agora. Quero sentir cada gota desse líquido vermelho que sai de mim escorrer e tocar o chão, quero tingir esse chão branco e apático com essa cor viva, quero me recostar sobre isso que é meu e que me faz sentir de novo. Agora eu volto a escutar meu coração, ele bate loucamente. E eu me sinto tão feliz.
O piso está bem mais bonito assim, cor de carmim. Meu coração desacelera aos poucos, não tem mais utilidade. A sensação de calmaria é boa.
Vistam-me com meu vestido de 15 anos, arrumem meu cabelo e me maquiem. Eu já vou acordar para minha nova vida, mas quero ser uma princesa, ou uma bailarina. Sim! Uma bailarina dançante!
Falei que eu pertencia a você. Somente a você, e tenho certeza que agora, você será meu. Sentimento de culpa ira toma-lo. Será obrigado a conviver com isso, caso não queira, te esperarei. Aqui. Em uma outra vida. Como meu príncipe ou quem sabe dançaremos balé, afinal quero ser uma bailarina dançante, e dançar o nosso amor.'' 
                                                                                        Hannah Mccain